Trabalhando com USB Gadgets no Linux

- por Sergio Prado

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Atualmente a maioria das plataformas embarcadas possuem uma ou mais portas USB Host, que permitem conectar dispositivos USB como teclados e pendrives. Neste caso, a plataforma embarcada atua como um host USB.

Algumas destas plataformas embarcadas possuem também uma porta USB OTG (On-The-Go), permitindo-a não só atuar como host, mas também como um device USB. Desta forma, é possível transformar a plataforma embarcada em um dispositivo USB como um pendrive, teclado, conversor USB/serial ou interface de rede.

No Linux, a camada de software capaz de fazer o sistema se comportar como um device USB é chamada de USB Gadgets.

Os gadgets USB são habilitados na configuração do kernel, acessando o menu Device Drivers -> USB support -> USB Gadget Support:

kernel

Existem gadgets USB para fazer o hardware se comportar como diferentes tipos de dispositivo, incluindo áudio, ethernet, armazenamento, serial, impressora, modem e webcam.

Normalmente os gadgets são habilitados como módulo, já que somente um gadget pode estar em funcionamento ao mesmo tempo. Desta forma, quando você quiser usar determinado gadget, basta carregar o módulo correspondente.

Vamos então fazer alguns testes, transformando uma plataforma de hardware qualquer nos tipos mais comuns de gadgets USB.

Utilizei a Beaglebone Black nos testes, usando uma distribuição customizada criada com o Buildroot. Mas os mesmos testes podem ser realizados em qualquer plataforma de hardware (ou mesmo um PC) rodando um sistema Linux.

Por convenção, chamarei de target o hardware (Beaglebone Black) e de host a máquina de desenvolvimento.

SERIAL GADGET

O gadget serial é habilitado no kernel através da opção CONFIG_USB_G_SERIAL, e permite transformar o target em uma porta serial.

Para usá-lo, basta carregar o módulo g_serial:

# modprobe g_serial

Deverá aparecer uma nova porta serial no target:

# ls -l /dev/ttyGS0
crw-------    1 root     root      242,   0 Jan  1 00:00 /dev/ttyGS0

No host, conectando-se ao target com um cabo USB, deverá aparecer também uma porta serial (é como se você tivesse conectado no host um cabo conversor USB/serial):

$ ls -l /dev/ttyACM0
crw-rw---- 1 root dialout 166, 0 Jan 22 22:27 /dev/ttyACM0

Desta forma, a partir de uma interface USB, é possível se comunicar serialmente com o target, possibilitando por exemplo iniciar uma aplicação de terminal nesta conexão serial.

NETWORK GADGET

O gadget de rede é habilitado no kernel através da opção CONFIG_USB_ETH, e permite transformar o target em uma interface de rede.

Para utilizá-lo, basta carregar o módulo g_ether:

# modprobe g_ether

Com o módulo carregado, deverá aparecer uma nova interface de rede (normalmente usb0), que pode ser configurada normalmente:

# ifconfig usb0 10.0.0.1 up

No host, conectando-se ao target com um cabo USB, uma nova interface de rede também deverá estar disponível e poderá ser configurada:

$ sudo ifconfig usb0 10.0.0.2 up

A partir deste momento, através de uma interface USB, você conseguirá se comunicar via rede com o target.

USB STORAGE GADGET

Este gadget é habilitado no kernel através da opção CONFIG_USB_MASS_STORAGE, e permite transformar o target em um dispositivo de armazenamento.

Para utilizá-lo, basta carregar o módulo g_mass_storage, passando como parâmetro um arquivo ou uma partição que será utilizada para salvar os arquivos do dispositivo de armazenamento:

# modprobe g_mass_storage file=/dev/mmcblk0p2 stall=0

No host, conectando-se ao target com um cabo USB, automaticamente será aberto o programa padrão de gerenciamento de arquivos, como se o target fosse um pendrive.

OUTROS GADGETS

Existem diversos outros gadgets, incluindo dispositivos HID como teclado e mouse, som, impressora, etc. Você pode até criar seu próprio USB gadget em espaço de usuário com o gadgetfs.

E o mais legal é que está tudo pronto! Basta ter uma interface USB OTG disponível e habilitar alguns módulos do kernel.

Bom divertimento!

Sergio Prado

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