LinuxCon Brasil 2010

- por Sergio Prado

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Na semana passada estive na LinuxCon Brasil 2010, realizada no Sheraton WTC Hotel em São Paulo nos dias 31/08 e 01/09. Foram dois dias de muitas palestras com algumas das principais personalidades do universo Linux, incluindo seu criador e mantenedor Linus Torvalds.

A organização do evento poderia ter sido melhor. Um pouco de confusão na entrada, algumas pessoas precisaram entrar no congresso sem o credenciamento para que não perdessem o keynote de abertura do evento. Na programação do evento havia um "Café da manhã continental", mas durante todo o evento eles serviram apenas café e água.

Tirando estes detalhes, e considerando que este foi o primeiro LinuxCon no Brasil, o evento foi bom, com palestras de alto nível, além da possibilidade de interação com alguns dos principais desenvolvedores do kernel do Linux.

PRIMEIRO DIA

O evento começou com o keynote de Jim Zemlin, diretor executivo da Linux Foundation, com um relato do passado, presente e futuro do Linux. A visão de "Linux is Everywhere" foi demonstrada com exemplos da utilização do Linux ao redor do mundo: sistemas financeiros como bolsas de valores, governos como o do Brasil e da França, controle de tráfego aéreo, sistemas embarcados, mobile, e por aí vai. O porque desta expansão do Linux também foi um tema recorrente no evento, e o keynote do Jim apresentou um cenário bem interessante:

  1. Internet of things: o Linux facilita o trabalho de conectar tudo à internet (embedded, mobile, computadores pessoais, servidores, super-computadores).

  2. Economia de tempo ($$): Esta tudo pronto e disponível, sistema operacional e stack TCP/IP. O que é melhor quando se tem um time-to-market de 3 ou 4 meses?

  3. Mudança na computação pessoal: Muitos já passam a maior parte do dia desenvolvendo seus trabalhos em netbooks e smartphones. Todas as informações estão na nuvem (internet). O Linux esta por trás disso, tanto no cliente quanto no servidor.

  4. Produtos -> Serviços: O mercado está evoluindo para um modelo de venda de serviços. Tecnologias abertas serão essenciais nesta evolução.

Jim encerrou seu keynote com uma previsão interessante. Segundo ele, em pouco tempo o hardware será gratuito, e as empresas estarão focadas em serviços. Veja aqui por exemplo o que a T-Mobile esta fazendo nos EUA. E no fim, também já garantiu a Linuxcon Brasil 2011!

O painel de discussão do Linux também foi bem interessante, com participação do Linus Torvalds e do mantenedor do kernel Andrew Morton. O Linus me pareceu uma pessoa bem mais equilibrada e ponderada do que aquele que vejo nas listas de discussão do kernel. E isso me surpreendeu positivamente. Ele se mostrou convicto e sincero também. Quando questionados sobre suas motivações para o desenvolvimento do kernel, Andrew respondeu que se sente útil ajudando outras pessoas, enquanto Linus disse que faz isso para ele mesmo, porque acha divertido. "I do not care about other people. I am selfish. I do it for fun.". Mas a forma como ele falou arrancou algumas gargalhadas do público. Na prática, acredito que eles quiseram dizer a mesma coisa.

Além disso, muitos outros assuntos foram discutidos. Linus disse que seu interesse inicial era apenas em computadores pessoais e que não esperava este crescimento do Linux. Defendeu sua posição de um kernel monolítico ao invés do micro kernel (assunto recorrente em listas de discussão do kernel). Se posicionou também com relação às várias licenças de software, dizendo que não existe uma licença certa ou errada, são apenas escolhas, e que o tempo irá dizer qual delas é a mais correta.

Nas palestras que assisti à tarde, destaco "O futuro é open-source", de James Bottomley da Novell. A excentricidade em pessoa, com um sotaque britânico carregado e uma gravata borboleta rosa, falou com propriedade sobre os impactos do código open-source para empresas, gerentes e desenvolvedores.

SEGUNDO DIA

O segundo dia começou com um painel do Kernel com os desenvolvedores James Bottomley, Christoph Hellwig, Ted Ts'o e do Thomas Gleixner moderados por Jon Corbet do Linux Weekly News. Foi um bate-papo bem dinâmico, com muita participação do público. Achei interessante quando perguntaram o que deveria melhorar no kernel, e a maioria deles concordou que todo o layer TTY deveria ser remodelado, já que foram baseados em equipamentos de 40 anos atrás. Deram também algumas dicas para quem quer se tornar um desenvolvedor do kernel: linguagem C, lógica, pensamento analítico e interfaceamento com o hardware.

O keynote da Jane Silber, CEO da Canonical, mostrou o quanto o pessoal por trás do Ubuntu está interessado em atrair mais usuários através de pesquisas sobre a experiência do usuário, e também da importância de manter o release de 6 meses e continuar sempre inovando. No final da palestra ela foi aplaudida de pé por todos os presentes na conferência.

O último keynote foi de Ted Ts'o do Google, mantenedor do layer de sistemas de arquivo do kernel. Ele falou sobre os diversos sistemas de arquivo existentes para atender diferentes demandas como embedded/mobile (jffs2, ubifs, squashfs, etc), desktop (ext3, ext4, xfs, btrfs, etc) e enterprise (nfs, smbfs, etc). Citou também uma tecnologia de memória muito interessante, que eu ainda não conhecia, a Phase Change Memory. É uma memória não volátil, de grande capacidade e boa durabilidade. É uma união do que tem de bom nos HD's com as memórias SSD e RAM. Poderia substituir o HD ou flash SSD. Neste caso, tudo ficaria em RAM. Mas deve levar ainda no mínimo uns 5 anos para chegar ao mercado.

À tarde, vale o destaque para duas palestras. O Marcelo Moreno, da PUC-Rio, falou sobre o middleware Ginga para TVs digitais. Mostrou exemplos de interação do usuário com aplicações para TV e os principais desafios como sincronizar vídeo e aplicação, adaptação do conteúdo ao público, tempo de resposta na interação, controle remoto como interface de entrada e o fato de ser uma experiência coletiva. É muito bom ver um projeto deste porte ser desenvolvido em nosso país.

Para finalizar, o sempre presente e barbudo John "maddog" Hall esteve lá para apresentar seu Project Cauã. É um projeto social com o objetivo de criar milhões de empregos na América Latina. É um projeto para tornar o computador mais amigável para o usuário final, e transformar administradores de rede em empreendedores, tudo isso através de um modelo de computação baseado em thin clients e server computing.

É uma visão revolucionária, para alguns até utópica. Mas é no mínimo interessante ver como o John e a comunidade Linux em geral estão vendo o papel do Brasil nesta história.

Que venha a LinuxCon Brasil 2011!

Um abraço,

Sergio Prado

Obs: Este post foi originalmente escrito para o blog da Vex, e seu conteúdo foi replicado aqui no meu blog pessoal.

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