Quem acompanha este blog desde o começo sabe que meus primeiros posts de Linux embarcado foram sobre a mini2440, uma plaquinha bem bacana com um display de 3,5″ que custava a bagatela de $70. Cheguei até a publicar um projeto sobre como transformá-la em um emulador de Atari. Isso numa época que não existiam Beaglebone Black’s e Raspberry Pi’s, e as placas eram muito mais caras (me lembro que a Beagleboard-xM custava $150).

Pois é, muitas coisas aconteceram em 5 anos, e hoje tem plaquinhas por menos de $10, como a C.H.I.P. e a Raspberry Pi Zero!

A FriendlyARM, empresa que fabrica a mini2440, lançou muitas outras placas, como a Mini6410 e a Tiny6410. Seus mais recentes filhotes são a NanoPi e a sua segunda versão, a NanoPi 2.

No final do ano passado, através de uma pessoa no Brasil que tem contato com os donos da FriendlyARM, recebi para avaliação a NanoPi e a NanoPi 2, e agora consegui um tempo para escrever um pouco sobre elas aqui no blog.

O PROJETO

A FriendlyARM criou um site só para o projeto da NanoPi. As placas foram lançadas no ano passado e duas coisas me chamaram a atenção nelas: ambas são bem pequenas (fazendo jus ao nome nano) e possuem WiFi e Bluetooth integrados!

A NanoPi usa o SoC da Samsung S3C2451 que roda à 400Mhz, possui 64MB de RAM e faz o boot por uma interface de cartão micro SD. Possui entradas de USB host e device, saída para display RGB e entrada de câmera, um barramento de 40 pinos compatível com a Raspberry Pi (inclui UART, SPI, I2C, GPIO, etc), além é claro das interfaces WiFi e Bluetooth através do chip AP6210 da AMPAK.

O custo deste brinquedinho no momento em que escrevo o artigo é de $16. Me pergunto como eles conseguem chegar a este preço. Fiz uma pesquisa rápida no Aliexpress, e só o chip WiFi/Bluetooth custa $29.28!

A NanoPi 2 é bem mais potente. Ela utiliza o SoC S5P4418 da Samsung com quatro núcleos de CPU ARM Cortex-A9 rodando à 1.4GHz! Possui 1GB de RAM e também faz o boot pela interface de cartão micro SD. Além das interfaces presentes na NanoPi, possui uma saída HDMI e o chip Wifi/Bluetooth utilizado é o AP6212, que suporta 802.11 b/g/n e BLE 4.0. Tudo por $32!

O projeto conta também com alguns acessórios bem bacanas incluindo displays, um módulo TTL/RS232 e o Matrix Starter Kit, com vários periféricos para interfacear com a placa:

DOCUMENTAÇÃO

Me parece que eles melhoraram bastante também no quesito documentação, comparado há alguns anos quando trabalhava com a mini2440. Na página principal de cada placa tem links para a documentação do hardware (esquemáticos, datasheets, etc), um guia de início rápido, tutorial de configuração da rede, compilação do bootloader, kernel e rootfs.

TESTANDO A NANOPI

Para a NanoPi tem uma imagem do Debian disponível. Seguindo o guia de início rápido do projeto, um cartão micro SD com a imagem do Debian pode ser gravado utilizando um conjunto de scripts que eles criaram e colocaram no GitHub:

$ git clone https://github.com/friendlyarm/sd-fuse_nanopi.git
$ cd sd-fuse_nanopi
$ sudo ./fusing.sh /dev/sdX

A distro rodou bem rápida, o Debian 8 “Jessie” sem interface gráfica subiu em menos de 30 segundos. A distribuição automaticamente configura a interface WiFi no modo access point com SSID “nanopi-wifiap” e senha “123456789” (estas configurações podem ser alteradas no arquivo /etc/hostapd/hostapd.conf).

Infelizmente não consegui testar as imagens na NanoPi 2. No momento em que escrevo este artigo, o servidor que hospeda as imagens estava retornando erro de acesso negado.

CRIANDO UMA DISTRIBUIÇÃO

Criar uma distribuição para estas placas é tranquilo. Todo o processo de compilação do U-Boot e do kernel Linux está descrito na página de desenvolvimento da NanoPi e da NanoPi 2.

CONCLUSÃO?

Gostei destas placas. São muito compactas, custo bem acessível e possuem WiFi/Bluetooth integrados, o que pode auxiliar na criação de aplicações que exigem comunicação sem fio. Percebi também que a FriendlyARM evoluiu no quesito documentação. Isso é um bom sinal, porque é raro encontrar hardware chinês com boa documentação. Como lado negativo, o servidor deles estava fora do ar, então não consegui baixar e testar as imagens na NanoPi 2.

Comparando as duas placas, a NanoPi é mais limitada e pode ser uma boa solução para projetos de interfaceamento com hardware e IoT, principalmente pelo baixo custo e presença das interfaces WiFi e Bluetooth. A NanoPi 2 é bem mais poderosa é pode funcionar como um mini PC ou ser utilizada em aplicações de processamento intensivo, tratamento de imagens e multimídia, ou mesmo servindo de gateway para projetos de IoT.

Para os interessados, as placas podem ser importadas diretamente do site do projeto (cuidado com o valor do frete) ou então via sites de e-commerce como o AliExpress.

Um abraço,

Sergio Prado